Endometriose profunda: o que é e como tratar

Neste artigo

    A endometriose profunda é uma forma mais complexa e, muitas vezes, mais incapacitante da endometriose. Apesar de não ser um problema de saúde raro, ela ainda é pouco compreendida pelo público em geral e até subdiagnosticada nos serviços de saúde.

    Isso faz com que muitas mulheres convivam por anos com dor intensa, limitações na vida cotidiana e impacto emocional significativo antes de receberem um diagnóstico adequado.

    Entender o que diferencia a endometriose profunda das outras formas da doença é um passo importante para reconhecer os sintomas, buscar ajuda especializada e iniciar um tratamento que realmente faça sentido para cada caso.

    Entenda o que é endometriose profunda, seus principais sintomas, como é feito o diagnóstico e quais são as opções atuais de tratamento.

    O que caracteriza a endometriose profunda?

    A endometriose acontece quando tecido semelhante ao endométrio, que normalmente reveste o interior do útero e é eliminado durante a menstruação, se desenvolve fora dele, atingindo outros órgãos pélvicos e abdominais

    Mas, mesmo estando fora do útero, esse tecido responde às variações hormonais do ciclo menstrual e pode provocar inflamação e dor.

    Além disso, na endometriose profunda, esse tecido não permanece apenas na superfície dos órgãos. Ele se infiltra de forma mais intensa, ultrapassando 5 milímetros de profundidade e atingindo estruturas importantes. 

    Entre as regiões mais frequentemente acometidas estão o intestino, o reto, a bexiga e os ureteres. Em situações mais avançadas, também pode haver envolvimento de nervos pélvicos.

    Essa infiltração mais profunda ajuda a explicar por que os sintomas costumam ser mais intensos e persistentes. Além da dor, podem surgir alterações no funcionamento dos órgãos afetados, o que torna o quadro mais complexo e exige um acompanhamento cuidadoso.

    Por que essa forma da doença se desenvolve?

    As causas exatas da endometriose profunda ainda não são totalmente esclarecidas. A explicação mais conhecida envolve a chamada menstruação retrógrada, quando parte do fluxo menstrual retorna pelas trompas e entra em contato com a cavidade abdominal.

    No entanto, esse mecanismo isolado não explica por que apenas algumas mulheres desenvolvem a doença e, menos ainda, por que ela se torna profunda em determinados casos.

    Hoje se sabe que outros fatores têm papel importante, como predisposição genética, alterações na resposta do sistema imunológico, processos inflamatórios persistentes e a ação dos hormônios femininos. A interação entre esses elementos pode favorecer o crescimento do tecido endometriótico e sua capacidade de infiltrar camadas mais profundas dos órgãos.

    É fundamental reforçar que a endometriose profunda não é exagero, resultado de escolhas pessoais, estresse emocional ou comportamento inadequado. É uma condição médica real, complexa e multifatorial.

    Sintomas mais frequentes da endometriose profunda

    Os sintomas da endometriose profunda variam bastante, dependendo do órgão afetado e do tamanho e profundidade das lesões. Algumas mulheres apresentam queixas desde a adolescência, enquanto outras percebem uma piora progressiva ao longo dos anos.

    A dor costuma ser o sintoma central, mas raramente aparece sozinha. Entre as manifestações mais comuns estão:

    • Dor pélvica crônica que pode ocorrer mesmo fora do período menstrual

    • Cólicas menstruais intensas que não melhoram com analgésicos comuns

    • Dor durante ou após a relação sexual

    • Dor ao evacuar ou urinar, principalmente durante a menstruação

    • Alterações do funcionamento intestinal, como constipação, diarreia ou sensação de evacuação incompleta

    • Dificuldade para engravidar

    Nem todas as mulheres apresentam todos esses sintomas, e a intensidade da dor nem sempre está diretamente relacionada ao tamanho das lesões. Ainda assim, a dor menstrual forte e incapacitante nunca deve ser considerada normal.

    Como o diagnóstico é feito na prática?

    O diagnóstico da endometriose profunda começa pela escuta atenta da história da paciente. Relatos de dor intensa, progressiva ou que interfere nas atividades diárias são sinais de alerta importantes.

    O exame ginecológico pode sugerir a presença da doença, especialmente quando há dor à palpação ou alterações na mobilidade dos órgãos pélvicos. No entanto, ele não é suficiente para confirmar o diagnóstico.

    Os exames de imagem têm papel fundamental nesse processo. A ultrassonografia transvaginal realizada por profissionais experientes e a ressonância magnética da pelve são capazes de identificar lesões profundas e avaliar sua extensão. Esses exames permitem um planejamento mais preciso do tratamento e evitam intervenções desnecessárias.

    A laparoscopia, que é uma cirurgia minimamente invasiva, deixou de ser apenas um método diagnóstico e passou a ser indicada principalmente quando há necessidade de tratamento cirúrgico ou quando os exames não são conclusivos.

    Impactos que vão além da dor física

    Conviver com endometriose profunda afeta muito mais do que o corpo. A dor recorrente, as limitações no trabalho, a dificuldade em manter uma vida sexual satisfatória e a incerteza em relação à fertilidade podem gerar sofrimento emocional significativo.

    Não é raro que mulheres com a doença relatem ansiedade, tristeza persistente e sensação de desamparo, especialmente após anos sem respostas claras. 

    Por isso, o cuidado com a endometriose profunda precisa considerar a pessoa como um todo, e não apenas as lesões visíveis nos exames.

    Entenda o que é endometriose profunda, seus principais sintomas, como é feito o diagnóstico e quais são as opções atuais de tratamento.

    Quais são as opções de tratamento?

    O tratamento da endometriose profunda não é igual para todas as mulheres. Ele deve ser individualizado, levando em conta a intensidade dos sintomas, os órgãos acometidos, a idade e os planos reprodutivos.

    Na maioria dos casos, o tratamento clínico é a primeira abordagem, e se baseia no uso de terapias hormonais que reduzem a atividade do tecido endometriótico e ajudam a controlar a inflamação e a dor. 

    Além disso, medicamentos para alívio da dor costumam ser usados como complemento, embora não atuem diretamente sobre a causa da doença. Seu uso deve ser orientado por um profissional de saúde, especialmente quando a dor é frequente, para evitar efeitos colaterais e toxicidade.

    A cirurgia é considerada quando o tratamento clínico não oferece alívio adequado ou quando há comprometimento importante de órgãos, como obstrução intestinal ou alteração do funcionamento dos ureteres. 

    Nesses casos, deve ser realizada por equipes com experiência específica nessa condição, uma vez que se trata de um procedimento complexo. O objetivo é remover as lesões preservando a função dos órgãos envolvidos.

    Em muitos casos, a combinação entre cirurgia e tratamento hormonal posterior proporciona melhor controle dos sintomas a longo prazo, diminuindo a chance de retorno do problema.

    A importância do acompanhamento contínuo

    A endometriose profunda é uma condição crônica e, como tal, exige acompanhamento ao longo do tempo. O tratamento pode precisar de ajustes conforme a resposta da paciente, mudanças hormonais ou novos objetivos de vida, como o desejo de engravidar.

    Além do ginecologista, outros profissionais podem ter papel importante no cuidado, como fisioterapeutas especializados em assoalho pélvico, profissionais de saúde mental e especialistas em dor. 

    Essa abordagem integrada contribui para um manejo mais eficaz e para uma melhora real na qualidade de vida das mulheres que convivem com a endometriose profunda.

    Dúvidas comuns sobre o tema

    Endometriose profunda piora com o tempo?

    A endometriose profunda pode evoluir ao longo do tempo quando não tratada. As lesões podem aumentar e infiltrar estruturas mais profundas, intensificando a dor e causando alterações funcionais em órgãos como intestino e bexiga. O tratamento precoce ajuda a controlar os sintomas e reduzir o risco de progressão.

    Quem tem endometriose profunda precisa operar?

    Nem toda mulher com endometriose profunda precisa de cirurgia. Muitos casos são controlados com tratamento hormonal e acompanhamento regular. A cirurgia é indicada quando há falha do tratamento clínico ou comprometimento significativo de órgãos, sempre após avaliação criteriosa de uma equipe especializada.

    Endometriose profunda aparece no ultrassom comum?

    A endometriose profunda nem sempre é identificada em um ultrassom comum. Esse exame pode não visualizar lesões infiltrativas, especialmente quando pequenas ou localizadas em regiões profundas. Por isso, costuma ser necessário um ultrassom transvaginal especializado ou ressonância magnética para um diagnóstico mais preciso.

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