A endometriose é uma doença ginecológica crônica que afeta milhões de mulheres em idade reprodutiva. No entanto, apesar de ser relativamente comum, ainda é cercada de desinformação, fazendo com que muitas pessoas convivam com a dor por anos antes de receberem um diagnóstico adequado.
Essa doença vai além da cólica menstrual intensa e pode impactar o corpo, a fertilidade e, principalmente, a qualidade de vida.
Por isso, entender o que é a endometriose, quais são os seus sintomas, como ela é diagnosticada e quais são as possibilidades de tratamento é um passo importante para reconhecer sinais de alerta e buscar ajuda especializada de maneira mais assertiva.
O que é endometriose?
O endométrio é um tipo de tecido que cresce dentro do útero, preparando-o para abrigar e nutrir o embrião. Quando isso não ocorre, o endométrio se desprende das paredes uterinas e é liberado através da menstruação.
Esse é um ciclo que se repete todos os meses de forma natural, e normalmente está associado a sintomas como a cólica menstrual.
A endometriose acontece quando o endométrio faz o caminho inverso, voltando pelas trompas e invadindo a cavidade pélvica e abdominal. Esses focos podem se instalar nos ovários, trompas de falópio, ligamentos uterinos, intestino, bexiga e em outras regiões da pelve.
Esse tecido responde aos hormônios do ciclo menstrual, assim como o endométrio normal. A diferença é que ele não tem por onde drenar o sangue e os resíduos do processo inflamatório. Isso leva a inflamação crônica local, formação de nódulos, cistos e aderências entre órgãos.
A condição não tem relação com falta de higiene, aborto ou fraqueza do organismo. É uma doença complexa, com fatores genéticos, hormonais e imunológicos envolvidos.
Causas da endometriose
Não se sabe exatamente o que leva o tecido endometrial a se deslocar do útero para outros órgãos. O que existe até o momento são teorias relacionadas aos fatores de risco identificados em mulheres que sofrem com o problema:
Genética, uma vez que filhas de mães com endometriose têm uma chance maior de desenvolver o problema
Alterações anatômicas no útero que propiciem o fluxo do endométrio para a cavidade pélvica
Ciclos menstruais com menos de 27 dias
Idade da primeira gravidez, com um maior risco para mulheres que tiveram filhos após os 30 anos
Primeira menstruação antes dos 12 anos
A presença de um ou mais desses fatores de risco não significa que a mulher irá desenvolver endometriose, mas sim que essas características devem ser levadas em consideração, juntamente com a análise dos sintomas.
Principais sintomas da endometriose
Os sintomas variam muito de mulher para mulher. Algumas apresentam sinais intensos, enquanto outras têm lesões significativas e sentem pouca dor. Mesmo assim, alguns sintomas são considerados típicos e merecem atenção.
Entre os sinais mais comuns estão:
Cólicas menstruais intensas
Dor pélvica crônica fora do período menstrual
Dor durante ou após a relação sexual
Sangramento menstrual intenso ou irregular
Dificuldade para engravidar
Dor ao urinar ou evacuar, especialmente no período menstrual
Distensão abdominal e sensação de inchaço frequente
Cansaço extremo durante o ciclo
A piora desses sintomas ao longo do tempo é um sinal comum e pode indicar evolução da doença.
Como é feito o diagnóstico
O processo de diagnóstico da endometriose nem sempre é fácil, já que a cólica menstrual intensa, principal sintoma, nem sempre é levada em à sério, seja pelo profissional de saúde ou mesmo pela própria paciente. Isso se deve à falta de informação e ao mito de que a menstruação sempre é algo doloroso.
Por isso, o atraso de anos entre o aparecimento dos primeiros sintomas e a confirmação da doença é comum.
Após a identificação dos sintomas, existem alguns exames que podem ser realizados para confirmar o diagnóstico e avaliar a gravidade:
Ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal
Ressonância magnética da pelve
Em alguns casos, o diagnóstico definitivo só é confirmado por laparoscopia, uma cirurgia minimamente invasiva que permite a visualização direta das lesões e a coleta de tecido para biópsia.
Tratamentos para endometriose
O tratamento da endometriose depende da intensidade dos sintomas, da localização das lesões, da idade da paciente e dos planos reprodutivos. Além disso, não existe uma cura definitiva, embora seja possível controlar a doença e melhorar significativamente a qualidade de vida.
As principais abordagens incluem:
Uso de anticoncepcionais hormonais contínuos
Progestagênios isolados, caso exista alguma contraindicação ao uso de estrogênio
Dispositivo intrauterino hormonal
Analgésicos e anti-inflamatórios para controle da dor
Para casos mais graves que não respondam a esses tratamentos, existem medicamentos específicos, que atuam diretamente na produção de estrogênio e progesterona:
Agonistas do GnRH, que interrompem o sinal do cérebro para a produção hormonal
Antagonista do GnRH, que também impede a produção de hormônios femininos
Inibidores da aromatase, que bloqueia a produção de estrogênio
No entanto, esses medicamentos podem produzir efeitos colaterais intensos, semelhantes aos da menopausa.
Cirurgia para endometriose
Quando o tratamento clínico não traz alívio suficiente, a cirurgia pode ser indicada. Normalmente, ela é realizada em casos de endometriose moderada e severa:
Bloqueio das trompas de falópio
Dor durante as relações sexuais
Infertilidade, quando há o desejo de engravidar
Quando a doença afeta o funcionamento de outros órgãos
A cirurgia é realizada por meio de videolaparoscopia, e permite remover focos de endometriose e liberar aderências, melhorando tanto a dor quanto a fertilidade.
Endometriose e fertilidade
A endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina, mas isso não significa que toda mulher com a doença terá dificuldade para engravidar.
Muitas conseguem gestar naturalmente, enquanto outras podem precisar de técnicas de reprodução assistida.
O acompanhamento com ginecologista e especialista em fertilidade é essencial para avaliar cada caso de forma individualizada e definir o melhor caminho para quem deseja engravidar.
Vivendo com endometriose
Conviver com uma doença crônica exige informação, apoio e acompanhamento contínuo. A endometriose pode afetar o trabalho, os relacionamentos e a saúde mental, principalmente quando a dor é ignorada ou subestimada.
Buscar profissionais especializados, participar de grupos de apoio e manter um diálogo aberto sobre o tema são formas de reduzir o impacto emocional da doença e quebrar o silêncio que ainda existe em torno da saúde feminina.
Com o tratamento adequado e uma abordagem multidisciplinar, é possível viver de forma mais confortável e ativa mesmo com o diagnóstico.
Dúvidas comuns sobre o tema
Não existe cura definitiva, mas os tratamentos disponíveis conseguem controlar os sintomas, reduzir a inflamação e melhorar a qualidade de vida na maioria dos casos.
Não. Muitas mulheres com endometriose conseguem engravidar espontaneamente. Em casos mais complexos, técnicas de reprodução assistida podem ajudar.
A dor da endometriose costuma ser mais intensa, piora com o tempo e pode ocorrer fora do período menstrual, além de interferir nas atividades diárias.
Referências ▼
- Brazilian Journal of Health Review – Prevalência e fatores de risco da endometriose em mulheres em idade reprodutiva: uma revisão de literatura
- Revista JRG de Estudos Acadêmicos – Métodos de diagnóstico e tratamento da endometriose: uma revisão baseada em evidências científicas
- Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia – Aspectos atuais do diagnóstico e tratamento da endometriose

