Em períodos de calor intenso, sintomas como dor de cabeça, tontura e náusea costumam ser tratados como efeitos esperados da exposição ao sol. Mas isso pode atrasar o reconhecimento de um quadro potencialmente grave: a insolação.
A insolação ocorre quando o organismo perde a capacidade de controlar a própria temperatura após exposição prolongada ao calor, com impacto direto sobre o sistema nervoso central e outros órgãos.
Diferente do mal-estar passageiro causado pelo calor, a insolação envolve aumento severo da temperatura corporal, geralmente acima de 40 graus, o que leva a alterações neurológicas que exigem atendimento médico imediato.
Então, em caso de suspeita de insolação, é essencial agir rápido para evitar a piora do quadro e possíveis danos permanentes.
Alterações fisiológicas causadas pela insolação
Nosso corpo produz calor de forma contínua, através de uma série de reações químicas. Assim, a regulação da temperatura corporal depende do equilíbrio entre essa produção e a perda de calor, que também costuma acontecer de forma natural.
O corpo dissipa calor principalmente por meio do suor e da dilatação dos vasos sanguíneos mais próximos à pele. Porém, em algumas situações, esses mecanismos podem se tornar insuficientes:
Em ambientes muito quentes, pois a alta temperatura impede o resfriamento do corpo
Durante o esforço físico intenso, já que a produção de calor aumenta
Nesses casos, a temperatura interna pode subir de forma progressiva, o que desorganiza funções celulares essenciais.
O calor excessivo compromete a atividade enzimática, desencadeia inflamação sistêmica e altera o funcionamento do cérebro. Por esse motivo, a insolação é classificada como uma emergência médica e não apenas como um desconforto passageiro.
Sintomas da insolação
Os sintomas iniciais podem passar despercebidos, uma vez que são confundidos com os efeitos comuns do calor. Os mais frequentes são:
Dor de cabeça intensa
Tontura
Náusea
Fraqueza
Pele quente e avermelhada
Diminuição ou ausência de suor
Aceleramento do coração
À medida que o quadro evolui, surgem sinais mais específicos, como confusão mental, dificuldade de concentração e desorientação. Em casos mais avançados, podem ocorrer convulsões, rebaixamento do nível de consciência e coma.
Essas alterações neurológicas são um critério central na identificação da insolação e ajudam a diferenciá-la de outras condições relacionadas ao calor.
Grupos com maior risco
A insolação pode afetar qualquer pessoa, mas a probabilidade é maior em determinados grupos, que são:
Crianças pequenas, que apresentam menor eficiência nos mecanismos de regulação térmica
Pessoas idosas, já que elas tendem a perceber menos a sede e frequentemente convivem com doenças crônicas ou fazem uso de medicamentos que interferem no equilíbrio hídrico
Indivíduos com doenças cardiovasculares, renais ou neurológicas também apresentam risco aumentado
Pessoas que utilizam certos medicamentos, como diuréticos, antidepressivos ou medicamentos anti-hipertensivos
Trabalhadores expostos ao sol, atletas e praticantes de atividade física intensa em ambientes quentes estão entre os grupos mais frequentemente afetados.
Porém, qualquer pessoa pode desenvolver uma insolação, caso esteja exposta aos fatores de risco.
Insolação e exaustão pelo calor não são a mesma coisa
Apesar de frequentemente confundidas, insolação e exaustão pelo calor representam quadros distintos.
A exaustão pelo calor é uma forma menos grave das chamadas “doenças causadas pelo calor”. Nela, o organismo ainda consegue controlar a temperatura interna e a temperatura corporal não passa dos 40°.
Nesses casos, a pessoa costuma apresentar sintomas mais leves, como:
Sudorese intensa
Fadiga
Queda de pressão arterial
Mal- estar
Náuseas e vômitos
Já no caso da insolação, ocorre falha completa da termorregulação, com um aumento perigoso da temperatura corporal e comprometimento neurológico.
Essa diferença tem implicações práticas importantes, pois a insolação não deve ser tratada apenas com repouso e hidratação domiciliar.
Complicações associadas à insolação
Esse aumento grave e prolongado da temperatura corporal pode causar danos significativos a vários órgãos. O cérebro é especialmente vulnerável, o que explica o risco de sequelas neurológicas permanentes, como déficits cognitivos e motores.
Outros órgãos frequentemente comprometidos incluem:
Rins, devido à desidratação severa
Músculos, com liberação de substâncias tóxicas na circulação
Além disso, alterações hepáticas e distúrbios da coagulação também podem ocorrer. E em quadros graves, a progressão para falência múltipla de órgãos representa risco real de morte.
O que fazer em caso de insolação?
A identificação precoce do quadro é fundamental. Por isso, diante da suspeita de insolação, a exposição ao calor deve ser interrompida imediatamente e medidas de resfriamento corporal devem ser iniciadas enquanto se busca atendimento médico:
A pessoa deve ser levada para um ambiente fresco e ventilado
Caso seja necessário, é recomendado retirar roupas excessivas
Aplicação de compressas frias
A ingestão de líquidos só deve ocorrer se a pessoa estiver consciente e orientada. E caso apareçam alterações do nível de consciência, convulsões ou piora rápida do quadro, é necessário procurar atendimento de emergência.
Como prevenir a insolação?
A prevenção da insolação pode ser feita com algumas estratégias simples:
Reduzir a exposição ao sol nos horários de maior calor
Usar roupas leves
Dar preferência a ambientes ventilados
Ingestão regular de água, mesmo na ausência de sede
Ajuste da intensidade das atividades físicas e a realização de pausas
Isso é ainda mais importante no caso de crianças, bebês, idosos e pessoas com doenças crônicas.
Dúvidas comuns sobre o tema
Você pode estar com insolação quando surgem sintomas após exposição prolongada ao sol ou ao calor intenso, como dor de cabeça forte, tontura, náuseas, pele quente e avermelhada, sensação de fraqueza, confusão mental e, em alguns casos, febre elevada. A insolação é uma condição grave e exige atenção médica imediata, especialmente se houver alteração do nível de consciência ou vômitos persistentes.
De acordo com o Ministério da Saúde, as causas da insolação incluem a exposição prolongada ao sol e ao calor, a prática de atividades físicas extenuantes, uso excessivo de roupas em ambientes quentes e a falta de hidratação. O problema se torna mais frequente no verão ou durante ondas de calor.
A duração da insolação varia conforme a gravidade e a rapidez do atendimento. Em casos leves, os sintomas podem melhorar em 24 a 48 horas com hidratação e repouso. Já quadros mais graves podem durar vários dias e exigir internação, pois o organismo leva mais tempo para se recuperar do superaquecimento e dos possíveis danos causados pelo calor excessivo.
Referências ▼
- Current sports medicine reports – ACSM Expert Consensus Statement on Exertional Heat Illness: Recognition, Management, and Return to Activity
- BMC public health – Epidemiological characteristics of heat-related illness: a nationwide study in Taiwan
- Wilderness and Environmental Medicine – Wilderness Medical Society Clinical Practice Guidelines for the Prevention and Treatment of Heat Illness

